A vontade do zagueiro Dedé de não enfrentar o Vasco, seu ex-clube e
do qual se declara torcedor apaixonado, levanta boa polêmica já que os
envolvidos não são apenas o clube mineiro (campeão, por antecipação) e o
Gigante da Colina (que tenta não se apequenar outra vez). Zé Roberto Padilha,
ex-ponta-esquerda do Flu, agora escritor e jornalista, veja o que ele acha sôbre o caso.
Caro Dedé, boa tarde. Sou um ex-atleta profissional de futebol, tenho 61 anos,
me formei em jornalismo e sou escritor. Defendi, durante 17 anos, sete clubes
brasileiros que me possibilitaram exercer uma digna profissão chamada atleta
profissional de futebol. Muito me orgulho de tê-la exercido em três diferentes
estados da federação, mas entre os pôsteres, faixas e medalhas que guardo com
carinho para mostrar aos filhos e netos nenhum legado é mais importante que a
rígida formação que recebi na universidade chamada Fluminense FC, onde
ingressei no pré-vestibular dos juvenis, e saí graduado nos profissionais para
defender o CR Flamengo oito anos depois.
No Globo Esporte da última quinta-feira, assisti a sua declaração abrindo mão
de enfrentar o Vasco, no sábado, no Maracanã, porque você “ estará torcendo
pela permanência na primeira divisão do clube que o revelou para o
futebol”.
Se o seu treinador fosse não o Marcelo, mas João Baptista Pinheiro, Telê Santana, Mário Jorge Lobo Zagalo, Carlos Alberto Parreira, Didi, dentre outros profissionais daquela minha universidade, você estaria demitido por justa causa do clube. Diziam, nossos sábios mestres, que estavam ali primeiro para formar o homem, depois o atleta, e com tal omissão você não se coloca à altura dos cidadãos que o futebol pretender entregar à sociedade após seu jogo de despedida.
Desde quando um profissional escolhe o time que irá enfrentar? Desde quando
coloca seu desejo individual em detrimento dos objetivos de um esporte
coletivo? Por algum momento você pensou nos seus companheiros de profissão do
Fluminense, do Coritiba, do Criciúma e do Bahia que precisam, nesta reta final,
que todos estejam no limite da sua capacidade física e técnica para que as
vagas conquistadas, e as perdidas, sejam decididas no limiar das suas forças?
Para que nenhum estímulo negativo, extra campo, extra ético, interfira nos
rumos que levarão Leandro Eusébio, Gum, e outros zagueiros que disputam sua
permanência na elite, saberem se vão ganhar salário de primeira ou de segunda
divisão. Se jogarão com o Maracanã lotado em 2014 ou entrarão para enfrentar o
Ceará naquele modesto gramado do Estádio Getúlio Vargas espremido de gente.
Não, Dedé, não é você quem vai decidir isto. Serão os deuses do futebol, mas
será preciso que cada um realize o melhor de si e não vai ser com a sua
ausência na partida contra o Vasco que o clube de São Januário saberá a divisão
que irá disputar. Portanto, ainda dá tempo de rever sua decisão. Sábado, você
dirá em campo ou na omissão, não ao Felipão, mas a toda nação brasileira, o
tamanho do caráter que poderemos convocar para defender mais que uma zaga, o
patrimônio ético, moral, de auto estima que nós, brasileiros conquistamos
diante do mundo. Na economia, na cultura e no futebol.
O Cruzeiro, outrora moeda desvalorizada, subestimada nas bolsas de Londres, de
Nova Iorque, hoje é uma moeda real, respeitada, como seu clube, merecido
brasileiro campeão antecipado. Mas que pode, com atos de desrespeito aos
valores sagrados do esporte, empanar o valor desta conquista ao não mandar a
campo o que tem de melhor. E você ainda é, ao lado de Thiago Silva e David
Luiz, o que temos de melhor. Dentro, e por enquanto, fora de campo”.
Na minha modesta opinião: Zé Roberto está coberto de razão. Pena que, hoje em dia no Brasil, poucas pessoas pensem como o Zé Roberto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário