Pelo menos 60
pacientes morreram em filas de espera por cirurgia em cinco hospitais federais
São 15.591 pessoas, das quais 2.529 estão classificadas como inativas,
ou seja, não foram localizadas.
Nos últimos doze anos, período em que, o Brasil é governado pelo o PT, os hospitais federais de todo Brasil, vem sendo sucateados sistematicamente. Um retrato fiel desse sucateamento é o Rio de Janeiro. Como o Rio é talvez o estado brasileiro com o maior número de hospitais federais do Brasil, é também maior prejudicado desse esquema desleal do PT, de acabar com os hospitais federais do Brasil. Vejam o tamanho da fila com mais de 15 mil pessoas que aguardam na fila para fazer um cirurgia, somente nos hospitais federais - infelizmente, eu também faço parte dessa fila, pois, estou aguardando para fazer uma cirurgia de HÉRNIA há quase dois anos.
Uma senhora, dona
de casa, que teve um rim transplantado no Hospital
Federal de Bonsucesso, Rio de Janeiro, há um ano e sete meses, bateu à porta da unidade no
início de dezembro com uma trombose no braço esquerdo. Sem vaga no setor de
transplantados, acabou na emergência que funciona em contêineres há quatro
anos. Lá, ficou das 18,00 horas daquele fim de tarde até as 9,00 horas do dia seguinte, sentada
numa cadeira, sem água até para tomar remédios. — Passei a
noite juntando saliva para engolir os remédios — conta a senhora, que foi internada, mas já recebeu alta, mesmo com o braço ainda inchado.
O drama dessa senhora não é um caso isolado. Pacientes têm que conviver com a precariedade
dos seis hospitais gerais federais da cidade, considerados referência em
diagnósticos e procedimentos de alta complexidade, apesar de
terem um déficit de 1.226 médicos. Os pacientes enfrentam ainda longas filas
por cirurgias. Uma ata de audiência de conciliação na 3ª Vara Federal —
resultado de uma ação movida pela Defensoria Pública — revela o número de
pessoas que aguardam a vez para serem operadas nessas unidades: 15.591, das
quais 2.529 estão classificadas como inativas, ou seja, não foram localizadas ou já devem terem falecidos devido ao tempo de espera por cirurgia.
GASTOS DE R$ 558 MILHÕES EM 2014 - Informações
detalhadas de cinco dos seis hospitais repassadas à Justiça — o Ministério da
Saúde ainda não esmiuçou os dados do Hospital dos Servidores —, mostram que,
desde agosto de 2006, pelo menos 60 pessoas morreram em filas sem conseguir
operações. A demora foi tanta que 199 doentes perderam a indicação clínica.
— Causa
perplexidade o fato de que, apesar de essas unidades terem orçamentos
generosos, haja tantos pacientes esperando por uma cirurgia — diz o defensor
federal Daniel Macedo, titular do Segundo Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletique
ajuizou a ação contra União, estado e município, que têm até março para
apresentar um plano para acabar com as filas em um ano.
Segundo o
site Transparência Brasil, em 2014 as seis unidades juntas gastaram R$ 558,99
milhões em custeio investimentos, sem
incluir despesas com servidores. Somando-se os três institutos federais no Rio
— Instituto Nacional do Câncer (Inca), Instituto Nacional de Traumatologia e
Ortopedia (Into) e Instituto Nacional do Coração (INC) —, os gastos alcançaram
R$ 1,15 bilhão (excluindo pessoal).
Para se ter
uma ideia, a Secretaria municipal de Saúde desembolsou, no ano passado, R$ 1,3
bilhão, a fim de bancar seus 26 hospitais de emergência/urgência e
especializados. Retirando os cerca de R$ 500 milhões destinados a pessoal, as
despesas dessas 26 unidades somaram R$ 800 milhões.
O Hospital
Federal de Bonsucesso ficou com uma fatia de R$ 132 milhões. Porém, as obras da
nova emergência, paralisadas desde 2011 após denúncia de sobrepreço, continuam
interrompidas. E as deficiências vão além de o atendimento de emergência ser
feito em contêineres.
— Acabaram
com serviços, como o de pneumologia pediátrica, e não sabemos o que aconteceu
com as duas mil crianças que se tratavam aqui. Em janeiro de 2013, suspenderam
os transplantes. Depois que procuramos a Defensoria, que obteve uma liminar,
retomaram os transplantes renais, mas não os hepáticos — relata Júlio Noronha,
diretor do Sindicato dos Médicos, que trabalha no Bonsucesso.
Presidente
da Associação de Movimentos dos Renais do Estado, Roque Pereira da Silva
lamenta que o Bonsucesso só esteja fazendo transplante de rins de cadáveres, e
não de vivos. Outro problema, segundo ele, é que a unidade não está realizando
o exame de nível sérico, que mede a função renal.— Se eu tiver uma diarreia, por
exemplo, não terei como fazer o exame. Esse é um direito nosso. Recebi um rim
da minha irmã há 11 anos, num ato de amor, e a gente tem de cuidar — desabafa
Solange Silva dos Santos, moradora da Vila do João.
Hospital Federal do Andaraí
Também no
Hospital do Andaraí, a área destinada à emergência está cercada por tapumes, e
o atendimento é feito em dois contêineres. Foi lá que Edvaldo Lourenço da
Cunha, de 49 anos, morador do Morro do Cruz, esteve por duas vezes na semana
passada, sem conseguir atendimento. Com um abscesso nas costas, dores e febre,
ele foi orientado a retornar uma terceira vez. — É um verdadeiro jogo
de empurra — reclama. Um médico
alegou que só haveria cirurgiões no ambulatório para retirar o abscesso às
segundas e sextas-feiras. O diretor do Andaraí, Gabriel Pimenta, no cargo há um
mês, reconhece que houve falhas no atendimento a Edvaldo: — Melhorar o
acolhimento é fundamental. Ele poderia ter sido encaminhado a uma unidade
básica da prefeitura.
Em Jacarepaguá,
a nova emergência do Cardoso Fontes está pronta. Só que os pacientes ainda vêm
sendo atendidos num espaço improvisado. — A nova
emergência não pode funcionar por falta de equipamentos e pessoal. No hospital,
não temos equipes completas, a cirurgia torácica acabou e deixamos de ter
pneumologia pediátrica e neuropediatria — conta uma médica.
Informações
do Cadastro Nacional do Estabelecimentos de Saúde de dezembro, indicam
que os seis hospitais têm 3.966 médicos (incluindo 619 residentes) e 1.968
leitos.
— Há
carência de recursos humanos, insumos básicos e equipamentos. Isso atrasa
diagnósticos e o início dos tratamentos — lamenta Sidnei Ferreira, presidente
do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj).
Membro da
Comissão de Saúde da Câmara Municipal, o vereador Paulo Pinheiro ratifica: — Essa rede
está gravemente comprometida, principalmente as unidades com emergência aberta
(Bonsucesso, Andaraí e Cardoso Fontes). De nada adiantarão decisões
pirotécnicas, dando conta de que as três esferas de poder estão unidas e vão
criar uma central de regulação única de vagas, se o Ministério da Saúde não
começar as obras e contratar recursos humanos através de concurso público.
O secretário
municipal de Saúde, no entanto, se mostra otimista: — O Rio pode
se tornar um modelo para o SUS. Com as unidades públicas funcionando
plenamente, será possível distribuir melhor a oferta de serviços.
Também
confiante na integração está Felipe Peixoto, à frente da Secretaria estadual de
Saúde: — Os
hospitais federais têm uma história de expertise e excelência quem tem a somar
na rede de saúde pública do estado.
Em nota, o
Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde diz que, nas seis
unidades, entre janeiro e novembro de 2014, houve 40.326 internações, 106.636
atendimentos de emergência, 37.700 cirurgias e 768.111 consultas. Este ano,
esses hospitais receberão repasses de R$ 664,4 milhões.
Obs. Reportagem publicada no Jornal O GLOBO.