Corupção na Petrobras: pequenos acionistas já sentem o prejuízo
nas suas economias
Decepção. O investidor José Alves Bento
já contabiliza um prejuízo de R$ 200 mil.
A extensão da crise na maior empresa do país ainda parece longe de ser
medida. Mas um grupo considerável de brasileiros tem a exata noção do prejuízo
pessoal que a sucessão de escândalos pode ocasionar. São pequenos investidores,
que apostaram parte das economias de uma vida inteira em ações da Petrobras e
hoje veem o patrimônio derreter. Apesar da perplexidade com o cenário, muitos
mantêm a esperança de que o cenário se reverta.
É o caso do advogado José Pimentel, que há 30 dos seus 68 anos investe
em ações da petrolífera e hoje calcula ter perdido de 30% a 50% do que aplicou.
Atento ao noticiário, ele não acredita que o valor de ativos superavaliados
chegue a R$ 88,6 bilhões, conforme divulgado pela diretoria da empresa:
— O conselho está meio apavorado e aceita qualquer número. Não pode ser
verdade que o Comperj e a Rnest (Refinaria Abreu e Lima) não valham nada. Há,
sim, um jogo de perde e ganha, em que grandes investidores esperam que os
pequenos se desfaçam dos seus ativos para comprá-los. Eu não vou vender nada; a
empresa não vai quebrar.
É o que também pensa o engenheiro José Alves Bento, que decidiu esperar
mais um pouco antes de tomar qualquer decisão sobre seus ativos. Aos 70 anos,
ele passou metade da vida investindo na empresa para garantir a tranquilidade
na aposentadoria. Agora que ela chegou, diz já ter amargado um prejuízo de R$
200 mil.
— Acho que a Petrobras tem um quadro técnico bom, o problema é político.
Vou dar um crédito, esperar a reação da própria sociedade. Mas o governo tem
responsabilidade, porque incentivou o trabalhador a investir na empresa. Agora,
tem que responder aos que confiaram nele — diz o aposentado, que, como mais de
310 mil trabalhadores, também investiu parte do FGTS em ações da empresa.
Outra aposentada, de 64 anos, do Paraná, decidiu entrar na justiça pedindo indenização para reparar o prejuízo que ela teve com a queda do preço das ações da Petrobras. Empresária do ramo de turismo até 2010, ela trabalhava mais de 12 horas por dia e decidiu mudar de vida após perder um filho em um acidente de moto. Queria trabalhar menos e viver de renda
Vendeu a agência e, como já aplicava na Bolsa de Valores, através de um homebroker,
escolheu os papéis de três empresas para receber bons dividendos, além de
esperar ganhar também com a valorização das ações. A maior parte do dinheiro,
R$ 260 mil, foi aplicada em dez mil ações da Petrobras. Hoje, esses papéis
valem pouco mais de R$ 80 mil.
— Perdi a maior parte do meu patrimônio — disse a aposentada, pedindo para que sua identidade não seja revelada. — Devido ao problema, voltei a fazer terapia.
Foi um novo baque em minha vida.
Reportagem publicada no Jornal O Globo de 31/01/2015.
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