Estudo questiona os benefícios do resveratrol, apontado por várias
pesquisas como redutor do risco de câncer, doenças cardiovasculares e
associadas à longevidade.
Os benefícios do vinho e do chocolate parecem estar com os dias
contados. Muitos já devem ter ouvido falar sobre o resveratrol, uma substância
presente em ambos e que, segundo vários estudos, é capaz de reduzir o
colesterol ruim (LDL), o risco de doenças cardiovasculares, de câncer, além de
estar associado à longevidade. Acontece que uma nova pesquisa publicada na
revista científica “JAMA Internal Medicine” joga um banho de água fria no bon
vivant que usava o argumento para abusar desses prazeres. Ele aponta
que, ao contrário do que pregam, a substância não traz tais vantagens para a
saúde humana.
- A história do resveratrol é mais um caso de grande comoção sobre
benefícios para saúde que não resistem ao teste do tempo - criticou o autor do
estudo, Richard Semba, professor da Escola de Medicina da Universidade Johns
Hopkins, nos EUA. - Muitos cientistas pensavam que como o resveratrol conferia
benefícios em alguns estudos com animais e células, isto poderia ser
generalizado para humanos. Entretanto, os dados dos testes clínicos com
resveratrol se mostraram inconclusivos.
Segundo o professor, trata-se do primeiro estudo a mostrar que os níveis
de resveratrol, que refletem o consumo natural de vinho tinto, chocolate e
outros alimentos, não garantem proteção contra doenças do coração e câncer,
além de não estarem associados com o aumento da expectativa de vida entre
adultos.
O pesquisador faz parte de uma equipe internacional que por 15 anos
estudou os efeitos do envelhecimento num grupo de pessoas que vive na região de
Chianti, na Itália. Para o estudo, eles analisaram amostras de urina a cada 24
horas de metabólitos de resveratrol em 783 pessoas com mais de 65 anos. Os
resultados mostraram que aqueles com maiores níveis de resveratrol não tinham
menos chances do que os demais com os benefícios para a saúde.
Foram acompanhados homens e mulheres entre 1998 e 2009, e neste período,
268 participantes (34%) morreram 174 (27%) desenvolveram doenças
cardiovasculares e 34 (4%) foram diagnosticados com câncer.
Chianti está localizada na Toscana, onde a dieta mediterrânea é parte da
cultura local e é tida por cientistas como associada à longevidade. Lá, explica
o estudo, não é comum o consumo de suplementos, mas sim o de vinho tinto. Os
participantes não faziam uma dieta específica. Mas Richard Semba ainda dá uma
esperança:
- Os benefícios, se é que existem, podem vir de outros polifenóis ou
substâncias encontradas nestes alimentos. Eles são alimentos complexos, e o que
sabemos do nosso estudo é que provavelmente esses efeitos positivos não vêm do
resveratrol.
Chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Celso Zanus coloca em dúvida
estes resultados do estudo americano:
- Fiquei surpreso, pois temos muitas evidências da bioatividade do
resveratrol favoráveis à saúde. O estudo é interessante, pois ele coloca a
dúvida, mas também está longe de ser um divisor de águas - comentou Zanus.
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